Brasil sabe como debelar a fome – e ciência é fundamental para alcançar essa meta
Hoje, mais de 33 milhões de pessoas não têm o que comer diariamente no Brasil, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (REDE PENSSAN). O número é quase o dobro do estimado em 2020 e representa 14 milhões de pessoas a mais passando fome no país. Nesse cenário, a ciência é fundamental para oferecer soluções – tanto sociais, como econômicas e até mesmo de produção. Esse é o tema discutido no último episódio do Ciência & Cultura Cast, o podcast da revista Ciência & Cultura, que nesta edição trata do tema “Ciência básica para o desenvolvimento sustentável”.
Apesar da pandemia ter contribuído significativamente para essa elevada alta que colocou o Brasil de volta ao Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) – de onde havia saído em 2014 – a fome não é consequência da covid-19. Segundo a economista Nathalie Beghin, integrante do colegiado de Gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), a pandemia de covid-19 impactou e acirrou a situação de pobreza e fome, mas crise que vivemos é anterior a ela. Para a pesquisadora, os impactos do desmonte das políticas de segurança alimentar e nutricional são agravados pelos efeitos da forma de produzir e consumir alimentos no Brasil que apresentam graves consequências na saúde das pessoas, no meio ambiente e nas mudanças climáticas. “Precisamos mudar muito a forma como produzimos e consumimos alimento, porque o modelo atual – que é um modelo baseado na exportação de commodities – é um modelo que adoece a população. Ele contribui para aumentar o desmatamento, para expulsar do campo o agricultor familiar, que é quem produz o alimento básico, para desvirtuar hábitos alimentares culturalmente enraizados”, afirma.
Por outro lado, a boa notícia é que sabemos como fazer para enfrentar esta questão. “Conseguiremos sair com uma certa velocidade dessa situação porque a gente já sabe como fazer”, aponta Beghin. Segundo a pesquisadora, a fome é um problema multicausal decorrente da insuficiência de renda, da dificuldade de acessar alimentos de qualidade e em quantidades suficientes, e, de processos discriminatórios, como o racismo e o patriarcado, que penalizam mulheres, pessoas negras, povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, entre outras causas. Assim, o enfrentamento da insegurança alimentar e nutricional requer uma abordagem sistêmica e multissetorial. “As instituições estão sendo reorganizadas e reestruturadas a partir de uma experiência que a gente já teve. Agora precisamos aperfeiçoar”, finaliza.
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