Episódios recentes demonstram a fragilidades dos regimes democráticos na região
Avanço da extrema-direita, aumento de regimes autoritários, enfraquecimento dos regimes democráticos. A democracia na América Latina está sob forte risco. O tema é discutido no último episódio do Ciência & Cultura Cast, o podcast da revista Ciência & Cultura, que nesta edição trata do tema “América Latina: Integração e Democracia”.
Nos últimos anos, a América Latina testemunhou avanços promissores e preocupações crescentes no seu cenário democrático. Embora a região tenha uma rica história de luta pela governação democrática, hoje enfrenta vários desafios. Um dos principais riscos para a democracia na América Latina reside na fragilidade das instituições. Muitos países da região enfrentam problemas de corrupção, falta de transparência e um Estado de direito fraco, que minam a confiança do público no processo democrático. Essas questões são frequentemente agravadas por disparidades econômicas, agitação social e prevalência do crime organizado, criando um ambiente volátil que testa a resistência dos sistemas democráticos. “Isso deixa claro as fragilidades que nossas democracias, inclusive a brasileira, demonstraram ao longo dessas duas, três décadas de vigência entre o fim dos regimes militares e esse período mais recentemente”, pontua Clayton Mendonça Cunha Filho, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador-associado do Observatório Político Sul-Americano (IESP-UERJ).
Para o pesquisador, esse cenário contribuiu para a ascensão de líderes alinhados à extrema-direita em toda a América Latina, levantando questões sobre a resiliência das normas democráticas. Alguns líderes foram acusados de minar as instituições democráticas e de concentrar o poder no poder executivo, o que pode levar à erosão dos pesos e contrapesos. Além disso, o clima político polarizado em muitos países tem dificultado o diálogo construtivo e a cooperação entre as diferentes facções, desafiando ainda mais a estabilidade da governação democrática. “A incapacidade desses regimes darem uma reposta eficiente aos problemas gerais da população – geração de emprego, crescimento econômico, educação de qualidade, distribuição de renda – contribuiu para o atual fortalecimento da extrema-direita. Ao não conseguir responder aos grandes problemas da população, dão espaço a esse tipo de ator e deixam as democracias frágeis”, explica Clayton Mendonça.
À medida que a América Latina enfrenta esses riscos multifacetados, o futuro da democracia na região depende do fortalecimento das instituições, da promoção da participação política inclusiva e da abordagem das disparidades socioeconômicas que continuam a alimentar o descontentamento entre as suas diversas populações. “É preciso também ter maior cuidado com a memória, com a educação cívica para as pessoas saberem se verdade o que foram essas ditaduras. Em Santiago, no Chile, por exemplo, você tem o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, que é um grande memorial do que foi a ditadura. Assim, é possível conhecer o que foram aqueles abusos aos direitos humanos na prática”.
Ouça o episódio completo: