Transformações na região impulsionam necessidade de investimentos em ciência e tecnologia
Os países da América Latina estão passando por rápidas e profundas transformações tanto políticas quanto econômicas. Têm, agora, presidentes eleitos democraticamente, privatizações em larga escala, e economias abertas. Essas transformações exigem também uma mudança de postura por parte da comunidade científica e das universidades desses países.
Nas décadas de 1970 e 1980, grande parte da América Latina estava sob regimes militares, caracterizados por economias fechadas e altas barreiras à importação. Mas, no final dos anos 1980, esse modelo econômico colapsou na região. Dívidas externas crescentes e inflação descontrolada provocaram um choque econômico. A defasagem tecnológica aumentou, enquanto a necessidade de inovação se tornou mais premente. Novos governos eleitos responderam com políticas de abertura de mercado, mas isso também resultou em desindustrialização e uma perda de capacidade inovadora em muitos países. “O problema da América Latina é a inconstância de governo. Um problema inclusive de solidificar a democracia nos países latino-americanos. Então essa falta de continuidade científica prejudica uma maior integração”, pontua Ana Tereza Vasconcelos, pesquisadora do Laboratório Nacional de Computação Científica (MCTI) onde coordena o Laboratório de Bioinformática e a Unidade de Genômica Computacional Darcy Fontoura de Almeida.
A América Latina agora enfrenta o desafio de impulsionar investimentos em ciência e tecnologia e repensar as políticas de cooperação para expandir a pesquisa e o desenvolvimento entre seus países membros. A integração da comunidade científica latino-americana pode não apenas dar visibilidade às pesquisas e aos pesquisadores, mas também reduzir a lacuna tecnológica que perpetua as desigualdades econômicas e sociais. “Eu acho que tem algumas coisas que poderiam ser feitas. Uma delas é realmente fazer um plano da América do Sul, integrado entre os países”, defende Paulo Roberto Feldmann, professor do Departamento de Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador de projetos da Fundação Instituto de Administração (FIA).
Embora tenha havido avanços na construção de uma institucionalidade mais robusta em ciência, tecnologia e inovação em vários países da região, é necessário um papel mais ativo desses setores nas políticas de desenvolvimento econômico, produtivo e social. A América Latina ainda enfrenta o desafio de garantir que a ciência e a tecnologia desempenhem um papel central em suas políticas. “A ciência na América Latina ainda precisa reforçar a sua interface com a sociedade, especialmente na área de formulação de políticas públicas, é preciso ter uma rede densa de colaboração entre a ciência e setores dentro do governo”, finaliza Elizabeth Balbachevsky, professora do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora científica do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP (NUPPs).
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