Confira depoimento da Secretária Executiva da Diretoria na SBPC
Ações como vice-presidente
Quando Aziz Ab’Sáber entrou como vice-presidente para ser vice do Crodowaldo Pavan, com a Carolina Bori (em 1983 a 1985), a SBPC era recém-saída da ditadura e estava com bastante prestígio por ser um espaço de resistência e debate, foi o único fórum de debate durante a Ditadura. A SBPC e Ab’Sáber muito se empenharam na questão da difusão científica.
Nessa época foi lançada a revista Ciência Hoje, e Ab’Sáber colaborou muito especialmente em um número especial chamado Eco Brasil, onde ele publicou o artigo “Sertões: a originalidade da Terra”. Nesse artigo ele mostrou os resultados de suas pesquisas realizadas de suas muitas viagens ao Nordeste, incluindo os mapas que ele mesmo criava.
Também nesse campo de difusão científica, a Carolina Bori com a ajuda de Ab’Sáber, programas de rádio na SBPC. O primeiro foi o ‘encontro com a ciência’, depois outro chamado “tome ciência”, sendo Ab’Sáber inclusive, um dos primeiros entrevistados.
Ações como secretário
A SBPC fez um documento com vários temas para ações da Assembleia Nacional Constituinte, sendo a comissão geral coordenada pelo professor José Albertino Rodrigues. Ab’Sáber, como secretário em 1987, compunha e coordenava a composição dos temas “Espaço e território e do ‘Meio ambiente”, onde foi feito um documento direcionado ao então presidente da constituinte, Ulisses Guimarães e para o Bernardo Cabral.
Nesse período, Ab’Sáber, juntamente com José Goldemberg, Amélia Hamburger, Pinguelli Rosa, dentre outros, compuseram a comissão que propôs emenda popular contra as armas nucleares.
Além dessa emenda, Ab’Sáber também participou de uma proposta de emenda que recolheu mais de 41 mil assinaturas, cuja ação deu origem ao capítulo dos Indígenas na Constituição, garantindo os direitos fundamentais aos Povos originários brasileiros. Foi uma atuação bastante importante da SBPCE em parceria com Ab’Sáber.
Ações como presidente
A primeira nota que Ab’Sáber emitiu quando se tornou presidente da SBPC em julho de 1993, foi uma forte carta escrita por ele e endereçada ao presidente da República, Itamar Franco, contra a Chacina da Candelária, que ocorreu no Rio de Janeiro.
Uma das primeiras ações que o professor Ab’Sáber fez foi enviar uma carta ao conselho demonstrando a intenção de criar um espaço para que os estudantes pudessem frequentar, já que o bairro onde a sede era localizada estava próximo a escolas e universidades, e era muito frequentado por jovens. Ele então utilizou uma sala grande que a sede tinha no final do corredor, adaptou-a com vários sofás, uma geladeirinha com sucos, estantes e as preencheu com livros, deixando um ambiente confortável para todos. Ele adorava essa vivência com os jovens, foi o único que teve essa ideia, era uma pessoa muito humanista.
Ab’Sáber também criou comissões para tratar de assuntos especiais, sendo oito delas anunciadas assim que tomou posse, como a “Comissão de Criatividade”, a de “Planejamento e recursos”, entre outras.
Outro fato importante foi que Ab’Sáber colocou muitos mapas nos corredores e tinha o maior prazer em ensinar a cada um que o visitava, era um professor nato.
Ab’Sáber também criou uma série de quatro publicações chamada “SBPC documenta” que foram lançados entre os anos de 1995 e 1996, onde reunia textos, artigos e trabalhos elaborados por diversos autores, tratando de problemas nacionais. A primeira edição tratava questões indígenas, a segunda Aziz publicou como “a carta aos brasileiros de Godofredo Telles”. O terceiro caderno foi dedicado à educação e reunia trabalhos apresentados durante a 46ª Reunião Anual e textos da comissão de educação da SBPCE. Já o quarto exemplar de Documenta foi publicado sob o tema “aspectos estratégicos de uma proposta nacional” e trazia trabalhos apresentados durante a 47ª Reunião Anual.
Ab’Sáber inclusive participou de muitas reuniões anuais da SBPC, sendo a 46ª que ocorreu em Vitória do Espírito Santo e a 47ª em São Luís do Maranhão realizadas em sua gestão, tendo essa no Maranhão um recorde de público, contando com mais de 13 mil participantes. A partir daí, as reuniões anuais contavam sempre com mais de 10 mil pessoas. E foi nesse período em que se passou a organizar Expociência (que depois se tornaria Expotec) e a SBPC Jovem.
Carinhosa despedida
Ab’Sáber foi nomeado como Presidente de Honra da entidade e tinha o costume de ir toda semana até a sede para produzir o material de Leituras Indispensáveis, onde eu o ajudava a digitar enquanto ele ditava. Quando terminou e eu fechei o computador, ele me entregou um DVD para entregar aos amigos dele. Isso já começou a soar para mim como uma despedida. Parecia que, de alguma forma, ele sabia que era o último encontro ali na SBPC…
Fui acompanhá-lo até a saída e, enquanto o elevador não chegava, Ab’Sáber me falou da netinha e de duas alunas da geografia que eram muito inteligentes, mas que tinham dificuldade em chegar até a universidade por morarem distante e que as auxiliava com a condução… Ele então me deu o nome delas e falou “Dona Nicinha, veja se a SBPC consegue ajudá-las”.
No dia seguinte, estávamos em reunião da diretoria e recebemos a notícia de seu súbito falecimento, na manhã de 16 de março de 2012 e foi, sinceramente, chocante… Fiquei muito tempo pensando no dia anterior e no último abraço que tivemos, porque sentia que ele estava diferente…
Memórias gentis
Ab’Sáber recebia todo mundo na sede com muito carinho e cuidado. Lembro-me de visitas que iam o procurar na sede e vendo que Ab’Sáber estava ocupadíssimo, eu pensava em pedir para a pessoa voltar em outro momento, mas ele fazia questão em receber, ajudar e orientar.
Conversando com uma colega que trabalhou na sala dos sócios lembramos que, Ab’Sáber fazia questão de deixar na mesa dela e na sala dos jovens, uma bomboniere com balinhas que ele mesmo comprava e gostava que estivessem lá para quem chegasse… Era de uma gentileza, uma pessoa muito humana…
Outra memória carinhosa que tivemos era de que quando chegava o Natal, Ab’Sáber passava no Ceasa e fazia uma mesa cheia de frutas de todas as espécies na sala de confraternizações. E mesmo depois quando ele saiu da presidência, lembro que ele mandou uma cesta de frutas na véspera de um Natal. Era uma pessoa muito doce…
Ab’Sáber tinha uma sensibilidade muito grande. Eu dizia até que ele era um pouco telepático (risos), porque eu pensava e ele respondia logo em seguida! Já ocorreram situações em que nós funcionários conversamos entre a gente e no dia seguinte, ele vinha com uma ideia para aquela questão, sem que nós o tivéssemos consultado… Realmente ele percebia muito as pessoas e quando alguém não estava bem, ele tinha essa sensibilidade em ajudar… Enfim, Ab’Sáber era um humanista, o maior que eu já conheci.
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