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Mapas da desigualdade: Como dados revelam o racismo ambiental no Brasil

Georreferenciamento, big data e sensoriamento remoto expõem como comunidades negras, indígenas e periféricas são as mais afetadas pelas mudanças climáticas — e o que a ciência pode fazer para mudar esse cenário

 

Em um mundo cada vez mais impactado pelas mudanças climáticas, os efeitos não são sentidos de forma igualitária. Enquanto alguns podem se proteger com recursos e infraestrutura, outros—muitas vezes comunidades negras, indígenas e periféricas — carregam o peso desproporcional da degradação ambiental. A ciência de dados surge como uma ferramenta crucial para expor essas disparidades, combinando georreferenciamento, sensoriamento remoto e big data para revelar como o racismo ambiental se materializa no território.

 

“O racismo ambiental não é um fenômeno acidental, mas um legado de desigualdades estruturais.”

 

A vulnerabilidade climática não se resume apenas à exposição a eventos extremos, mas a uma teia de fatores sociais, econômicos e históricos. No Brasil, quilombos, terras indígenas e periferias urbanas são exemplos de territórios racializados que enfrentam ameaças como garimpo ilegal, contaminação por agrotóxicos e falta de saneamento básico. O projeto VERACIS, por exemplo, cruza dados climáticos com indicadores de saúde para mostrar como comunidades negras nos seis biomas brasileiros sofrem com doenças agravadas pelas mudanças climáticas. Já o SisVuClima e oÍndice de Vulnerabilidade Climática dos Municípios (IVCM) revelam, por meio de modelagens, quais regiões têm menor capacidade de adaptação — justamente aquelas onde a pobreza e a exclusão se sobrepõem à cor da pele.


Figura 1. Esgoto a céu aberto em rua da periferia no Distrito Federal
(Foto: Valter Campanato/ USP. Divulgação)

 

O racismo ambiental não é um fenômeno acidental, mas um legado de desigualdades estruturais. Bairros pobres abrigam lixões, rios poluídos cortam comunidades indígenas, e zonas de sacrifício—como a região de Bhopal, na Índia, ou Flint, nos EUA — são quase sempre habitadas por populações marginalizadas. Na Amazônia, o avanço do garimpo e do agronegócio contamina rios e expulsa povos tradicionais, enquanto mapas gerados por satélites expõem o desmatamento que avança sobre terras protegidas. Sensores remotos e algoritmos conseguem, hoje, prever quais áreas serão mais afetadas por secas ou enchentes, mas também revelam um padrão: são as mesmas onde o Estado historicamente falhou em garantir direitos básicos.

 

Desafios

Os desafios, porém, são grandes. A escassez de dados detalhados sobre algumas regiões — como territórios quilombolas não reconhecidos — dificulta análises precisas. Além disso, a vulnerabilidade é interseccional: raça, gênero e classe se entrelaçam, exigindo modelos que vão além de estatísticas simplificadas. Mas quando a ciência de dados é aliada ao conhecimento local, como no engajamento de comunidades no mapeamento de riscos, ela se torna uma arma poderosa.

 

“Quando a ciência de dados é aliada ao conhecimento local ela se torna uma arma poderosa.”

 

A justiça climática exige mais do que tecnologia — requer políticas públicas direcionadas e reparações históricas. Mas sem dados robustos, as injustiças permanecem invisíveis. Ao tornar visível o que antes era ignorado, a ciência de dados não apenas expõe crises, mas aponta caminhos: onde investir, quem proteger e como reparar. Em um planeta em aquecimento, o futuro depende de enxergar — e agir — sobre essas desigualdades antes que seja tarde demais.

 

Capa. Tomaz Silva/Agência Brasil. Reprodução
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