Tecidos inteligentes e tecnologias vestíveis estão transformando a experiência de usar roupas — e redesenhando o papel da moda na sociedade.
Não é só a música que impressiona nas apresentações de Beyoncé. Durante a turnê Renaissance, um dos figurinos da artista roubou a cena: um vestido que muda de cor em pleno palco. A peça, desenvolvida com pigmentos fotocrômicos, reage à luz ultravioleta e cria efeitos visuais em tempo real, aproximando a moda de um espetáculo científico. Mais do que um detalhe fashion, o episódio ilustra como a tecnologia vem se infiltrando no tecido — literalmente — da indústria do vestuário.
“Do jeans termorregulador aos bio-tecidos cultivados em laboratório, a moda tornou-se um laboratório vivo de ciência aplicada.”
Hoje, roupas não servem apenas para vestir. Tecidos com propriedades antibacterianas, proteção contra raios UV, regulação térmica ou até capacidade de autorreparo já estão no mercado. Alguns incorporam sensores capazes de monitorar batimentos cardíacos e desempenho físico, transformando peças em verdadeiras centrais de dados. A chamada “tecnologia vestível” avança a passos largos: pulseiras inteligentes e relógios já são comuns, mas especialistas preveem que roupas e calçados conectados serão a próxima fronteira. (Figura 1)

(Foto: Senai. Reprodução)
A saúde é um dos campos em que essas inovações mais se destacam. Tecidos tratados com micropartículas de prata já são utilizados para inibir bactérias e odores, e pesquisas avançam no desenvolvimento de materiais capazes até de inativar vírus, como o coronavírus. Roupas com compressão controlada auxiliam na circulação sanguínea e na performance esportiva, enquanto calçados com propriedades antibacterianas e hidratantes começam a chegar às vitrines. Ao mesmo tempo, a nanotecnologia abre caminho para tecidos que repelem líquidos, protegem contra insetos e se ajustam ao corpo, ampliando o conforto do usuário.
Sustentabilidade
Mas a revolução têxtil não se limita à funcionalidade. A sustentabilidade é um eixo central. A indústria, pressionada por críticas ao desperdício e à poluição, aposta em matérias-primas alternativas: couro de abacaxi, fios reciclados de garrafas PET, resíduos de redes de pesca e fibras de milho ou café. A biotecnologia dá origem a bio-tecidos cultivados a partir de fungos e bactérias, biodegradáveis e de baixo impacto ambiental. Em paralelo, softwares e realidade virtual permitem desenhar, testar e até “experimentar” roupas digitalmente, reduzindo sobras de produção. (Figura 2)

(Foto: Autoindústria. Reprodução)
A integração entre ciência e moda também transforma a experiência do consumidor. Marcas esportivas já oferecem peças com sensores que enviam dados de respiração, gasto calórico e desempenho físico em tempo real para aplicativos. Estudos de mercado apontam que, até 2026, o setor global de tecnologias vestíveis deve movimentar mais de 260 bilhões de dólares. A tendência é que roupas, acessórios e dispositivos “conversem” entre si, criando um ecossistema de dados voltado ao bem-estar.
“A nanotecnologia e a biotecnologia ampliam a funcionalidade do vestuário, enquanto a inteligência artificial redefine o processo criativo e produtivo.”
O futuro, portanto, já está sendo costurado. A moda deixa de ser apenas estética para se tornar funcional, conectada e sustentável. Se antes parecia ficção científica imaginar calças jeans que refrescam em dias de calor ou tecidos que se regeneram após um rasgo, hoje essas inovações estão ao alcance da mão. O desafio é torná-las acessíveis em larga escala, sem perder de vista o design, o conforto e o compromisso ambiental. Afinal, a roupa do amanhã não será apenas o que você veste, mas também o que cuida do seu corpo e do planeta.
(Capa: Divulgação)


