Com a conferência em Belém, o Brasil entra no centro do debate global sobre a crise climática — um momento decisivo para unir ciência, políticas públicas e transformação econômica.
Com a COP30, sendo realizada em novembro, em Belém, as mudanças climáticas entraram com força na pauta da sociedade brasileira. Observamos uma mobilização importante em vários setores econômicos e na sociedade em geral.
Atualmente, o principal desafio enfrentado pela humanidade é, sem dúvida, o das mudanças climáticas. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, cinco dos dez maiores riscos para a economia global estão associados às mudanças climáticas e à degradação ambiental. Ou seja, a urgência climática não é mais um debate distante, mas um chamado direto à ação em áreas estratégicas. A mudança climática já chegou com toda a sua força, especialmente por meio do aumento da frequência e da intensidade dos eventos climáticos extremos. E os impactos econômicos e sociais são significativos em muitas áreas.
“A urgência climática não é mais um debate distante, mas um chamado direto à ação em áreas estratégicas.”
A COP-30 representa um momento crucial para o enfrentamento da crise climática. Nesse contexto, a convergência entre a ciência climática e as transformações das sociedades e economias ganha destaque como eixo estratégico para avançar nas soluções de que o planeta urgentemente necessita. Já aquecemos o planeta em 1,55 graus Celsius. O aumento da frequência e da intensidade dos eventos climáticos extremos pode ser facilmente observado em todo o planeta.
O Brasil, com sua vasta biodiversidade e uma economia fortemente dependente do clima, tem vulnerabilidades importantes às mudanças climáticas. Os impactos climáticos afetam intensamente a produtividade da agropecuária e a produção de hidroeletricidade, aumentando o preço de alimentos e energia e penalizando especialmente a população mais pobre do país. A infraestrutura brasileira, incluindo sistemas de suporte à saúde, cidades e transporte, é bastante vulnerável a eventos climáticos extremos.
“O Brasil, com sua vasta biodiversidade e uma economia fortemente dependente do clima, tem vulnerabilidades importantes às mudanças climáticas.”
Em 2024, as atividades econômicas em nosso planeta foram responsáveis pela emissão de 57 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa (GEEe). Os dados são claros: mesmo com os 15 anos do Acordo de Paris e as 29 COPs realizadas até o momento, as emissões continuam aumentando significativamente a cada ano. Os principais gases de efeito estufa são o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Além disso, há contribuições climáticas significativas do ozônio (O3) e do material particulado na forma de aerossóis. Estes últimos são também poluentes atmosféricos que impactam a saúde de bilhões de pessoas, e cuja redução de emissões traz co-benefícios importantes na redução da mortalidade pela redução da poluição do ar.
Os dois maiores setores responsáveis pelas emissões de GEE são a extração e o uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) e o desmatamento de florestas. Atualmente, cerca de 92% das emissões estão associadas aos combustíveis fósseis e 8% ao desmatamento. Os setores econômicos que se destacam são a geração de energia, o setor de transportes e a produção de alimentos.
“É inegável que o aquecimento exacerbado terá efeitos profundos sobre o clima, o meio ambiente, as economias e a população.”
A temperatura média do planeta já aumentou cerca de 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais. Em áreas continentais, o aumento médio da temperatura já alcançou cerca de 2,1 °C, com algumas regiões brasileiras registrando um aumento de 2,4 °C, como o Vale do Rio São Francisco e a região leste da Amazônia. Portanto, a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento médio global em 1,5 °C está certamente sob risco.
E quanto aos cenários futuros? Com os compromissos atuais do Acordo de Paris, as simulações climáticas do IPCC apontam para um aumento da temperatura média do planeta em cerca de 2,8 °C em relação aos valores pré-industriais ao longo deste século. No caso do Brasil, as temperaturas aumentarão cerca de 4 °C. É inegável que o aquecimento exacerbado terá efeitos profundos sobre o clima, o meio ambiente, as economias e a população. A vida e as atividades econômicas em cidades como Palmas, Cuiabá, Manaus, Teresina ou Brasília, com temperaturas médias 4 graus mais altas, vão ser muito difíceis. Em todo o planeta, o aumento das temperaturas está associado a uma maior frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas duradouras, tempestades e inundações. Esses eventos extremos se tornarão 39 vezes mais frequentes e aumentarão sua intensidade em um fator de 5. Não resta dúvida de que tais cenários terão impactos significativos sobre a agricultura, a geração de hidroeletricidade, a infraestrutura, a saúde das populações e a vida cotidiana no Brasil e em todo o planeta.
A COP-30 tem uma missão nobre: contribuir para a humanidade enfrentar um dos principais desafios do nosso tempo: a mudança do clima e seus efeitos. Entre os muitos temas em pauta estão a proteção das florestas, das populações tradicionais, a adaptação às mudanças do clima, e o financiamento climático.
É importante salientar que, sem enfrentar a principal causa da crise climática, que é a produção e a queima de combustíveis fósseis, qualquer avanço nas demais áreas torna-se insuficiente. A chamada transição energética justa busca descarbonizar a economia e promover o uso de fontes renováveis de energia, como a solar, a eólica e a hidrelétrica, de forma equilibrada, inclusiva, justa e sustentável. Certamente também precisamos zerar o desmatamento de florestas tropicais até 2030.
A sobrevivência da Amazônia — e de seus ecossistemas associados — depende diretamente da contenção da mudança do clima, o que só será possível com a redução drástica da queima de combustíveis fósseis e o comprometimento real com a descarbonização planetária. É urgente repensar o modelo de desenvolvimento da Amazônia, substituindo práticas predatórias por uma economia de base florestal, que valorize a preservação ambiental, gere renda local e beneficie as comunidades que vivem na região.
A COP-30 constitui uma oportunidade crucial para reorientar o curso da crise climática, mediante a estruturação de uma agenda de ação global de descarbonização que abranja todos os setores das economias. A COP30 traz uma oportunidade única para o Brasil liderar essa agenda, com a possibilidade de articular ciência, política e economia em prol de uma transformação sistêmica. Esta transformação está condicionada a uma transição energética justa, fundamentada na geração de energia de baixo carbono e na substituição gradual, contudo urgente, dos combustíveis fósseis. A eliminação progressiva do uso de combustíveis fósseis é fundamental para garantir um futuro sustentável, com clima estável e condições para o mundo atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), construindo uma sociedade mais justa e resiliente às mudanças climáticas.
O sucesso da construção de uma sociedade mais justa e resiliente às mudanças climáticas dependerá da capacidade dos atores globais de superar discursos vazios e avançar em compromissos firmes, monitoráveis e baseados em cooperação científica e financeira internacional. Temos que fazer a COP30 ser realmente a COP da virada, da implementação de medidas que levem o planeta à sustentabilidade e à maior resiliência. Ciência é crucial neste caminho. Que Belém seja não somente palco de negociações diplomáticas, mas símbolo de um novo começo, em que ciência, respeito às sociedades tradicionais, coragem política e ação coletiva se unam para construir um futuro possível para todas as formas de vida na Terra. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) tem um papel importante fomentando ciência na direção do desenvolvimento sustentável.
Capa. A COP-30 tem a missão de contribuir para que a humanidade enfrente um dos maiores desafios do nosso tempo: a mudança do clima e seus efeitos.
(Foto: Agência Pará. Reprodução)


