O que a COP30 revelou sobre a força global da floresta e os desafios que ainda precisamos enfrentar.
A COP30, realizada em Belém, colocou a Amazônia no centro das discussões globais sobre clima — não apenas como cenário, mas como força motriz de debates que ajudam a redefinir o futuro do planeta. Pela primeira vez, chefes de Estado, cientistas, ativistas e lideranças indígenas se reuniram no coração da maior floresta tropical do mundo para discutir implementação climática, justiça ambiental e transição energética. O encontro ampliou o reconhecimento internacional de que sem a Amazônia é impossível estabilizar o clima e avançar rumo a um modelo de desenvolvimento que seja realmente sustentável.
Apesar do brilho político e simbólico, a conferência expôs tensões antigas: ainda sabemos menos sobre a Amazônia do que seu protagonismo exige. Entre diagnósticos incompletos e narrativas simplificadoras, persiste uma distância desconfortável entre o discurso e a prática. A floresta continua atravessada por visões conflitantes — ora tratada como commodity, ora como patrimônio ecológico, ora como território ancestral — e essa disputa condiciona decisões que vão do financiamento climático ao combate ao desmatamento. “Não dá para tomar decisões sobre a Amazônia sem conhecer a Amazônia. Então, o papel da ciência é fundamental”, enfatiza João Valsecchi, diretor geral do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
A relevância da Amazônia, porém, é concreta e mensurável. A região regula chuvas que abastecem a agricultura continental, influencia padrões atmosféricos globais e abriga sistemas biológicos capazes de sustentar economias inovadoras baseadas na sociobiodiversidade. Seu conhecimento tradicional, cultivado por povos originários há milênios, oferece caminhos para enfrentar limites planetários que já se tornaram inadiáveis. Entender a floresta como “infraestrutura viva” significa reconhecer que sua saúde não beneficia apenas comunidades locais, mas toda a humanidade. “Para além do pulmão do planeta, a Amazônia, é essa riqueza de uma natureza com muita água, muita vegetação, solos muito bons, relevo, e também de uma diversidade antropológica, cultural, étnica das mais ricas do mundo”, afirma Francisco de Assis Mendonça, professor dos Programas de Pós-Graduação em Geografia (PPGeo) e Meio Ambiente e Desenvolvimento (PPGMade) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A COP30 abriu janelas importantes para novas alianças e interpretações, especialmente ao dar visibilidade inédita às vozes indígenas e à sociedade civil. Ainda assim, o verdadeiro salto depende de algo mais profundo: incorporar a Amazônia como referência de futuro, não como retórica. Isso inclui fortalecer a ciência produzida na região, ampliar a restauração ecológica, garantir proteção territorial e construir políticas que valorizem a diversidade de saberes. A floresta já projeta possíveis caminhos há séculos; cabe ao Brasil e ao mundo finalmente escutá-los e transformá-los em ação. “As pessoas aprenderam coisas e obviamente essas coisas vão entrar como um dos elementos nos seus processos decisórios e nas suas formas de ação, com certeza e aí você tem a COP 30 deixando um legado”, pontua Francisco de Assis Costa, pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA).
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